quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Infanto Juvenil I

Primeiro de tudo: o futebol.

Na rua organizávamos o jogo mesmo no asfalto, as traves eram pedras amontoadas e nossas sandálias, que todos jogávamos descalços. As laterais do campo eram as calçadas, os portões da casa dos outros. 20 minutos de cada lado, falta podia ser marcada por qualquer um, que não tinha juiz.



Isso na Liberdade. Agente juntava dinheiro e ia no Paes Andrade com o pai de algum dos meninos, comprar os escudos dos times, feitos de pano que alguma mãe costurava em nossas camisas velhas. Uniforme de time era um sonho impossível, muito caro. Então eram os escudos costurados no peito e alguns de nós que não tínhamos mãe na disposição de perder tempo com molequeira, simplesmente passávamos cola de sapato ou de madeira e ficava uma coisa horrorosa, mas agente achava ótimo. Meu time era o de meu irmão que todo mundo chamava de Papel e por herança eu era chamado de Papelzinho ( só depois , na Ribeira, eu ganhei o apelido de Caneta, tudo sempre na seção de material escolar). O Galícia. Ainda lembro do escudo branco e azul colado na esquerda de uma camisa velha do colégio.


Oito ou nove anos, pivete solto na rua, dedo rebocado, dedão faltando a unha, canela cheia de marca de pancada de bola, cotovelo sempre ralado, realmente, jogar bola lá na rua era coisa de espartano.
Mas agente vivia na febre...
Os times do Bairro Guarani, os times do Estica, os times do São Lourenço, os times da Ladeira do Abacate, o campeonato era grande e inter-ruas. Como agente era pirralho, colava na tabela do campeonato dos meninos mais velhos e jogava antes ou depois do jogo deles.
O time era o Goleiro Papel ( só o goleiro podia ter mais de dez anos), eu, Jean, e Loguita na linha.
Os caras da Rua C cantavam: “Ontem à noite lá no baba, foi aquele arerê, o Galícia de calcinha, chamando outro time pra fuder. Tá de bode, ta sem moral, porquê é o pior time da capital...”
Agente engolia na raiva, vixe, tudo filho de mãe sem pai, tudo côro de rato que todo mundo na rua acha que pode tomar conta. Só escutava, no jogo agente resolvia.
Rapá, meu irmão era um frangueiro filho da puta. No primeiro jogo, contra os meninos do Estica, o cara tomou um gol em menos de três minutos de jogo. Eu espumava. Olhava de canto de olho. Gostava de jogar atrás, na raça, tomando a bola, lançando a bola, nosso time fez um e fez dois. Os meninos do Estica eram muito melhores que agente. Tinham um, dois anos mais, numa idade em que isso faz diferença grande, que o corpo já começa a ficar mais forte, mais másculo: Bau, Papa-Capim, Peixe Frito, Nem. Ganhamos o jogo ferrado nesse dois a um, os caras não aceitaram.
- Tomar no cú bairro Guarani, essa porra de rua só tem viado. Só tem puta!!
Calado. Já tinha ganhado, já tinha sido anotado o resultado na tabela, dois pontos, foda-se!
- Essa porra aqui não tem homem – gritou Bau – ninguém aqui tem coragem de sair na mão comigo.
Agente se entreolhou, vixe, meu irmão de cabeça baixa, todo mundo olhando pro chão. Eu andava lendo muita revista né, disse:
-Eu saio na mão com qualquer um!
Seco igual um agdaví, o medo pulsando adrenalina pelo corpo, se fuder, eu tava morrendo de medo, mas tinha lido alguma coisa sobre enfrentar o valentão e ele ficar com medo e dar pra trás.
Deu certo, em parte, três deram pra trás, mas Bau ficou.
- Cê vai sair na mão com ele?
-Saio!
-Ninguém se mete!
-Ninguém se mete!
Porra, se o primeiro jogo ta sendo assim, agente chega no final do campeonato morto.
O Goleiro Papel não falou nada, Bau era forte, tipo de cara atarracado, baixinho e forte, vai pra porra, agente se embolou no asfalto, chute, murro, pisão, tirou pedaço nenhum. Agente contava as brigas por murro na cara. Ganhou quem deu mais murro na cara, mas ninguém queria saber, né: os meninos do Estica carregaram Bau comemorando o vencedor, os meninos de lá da rua me carregaram gritando que eu ganhei.
Maravilha essa onda de estar com o sangue quente e não sentir dor. Nem murro, nem corte, nem arranhão, nem pereba. Vc briga e não sente nada.
Mas depois. Duas coisas somente eram capazes de apavorar um pivete perebento como eu: uma, o banho. A hora da água cair nas feridas, putaquepariu! Segunda, a pior: Mertiolate!!!!
- Se num queimar num cura! Diziam todas as velhas.
Mano velho, minha corrente, como agente dizia naquele tempo. Era ver o aplicador do mertiolate que minha alma gelava. Eu garanto que já senti mais dor com mertiolate do que com qualquer corte, ferida, arranhão ou qualquer diabo que já tenha acontecido comigo. Era tocar aquela porra de líquido vermelho e o homem gritava e se contorcia e as lágrimas brotavam nos olhos. Tinha de ser minha mãe, minha prima mais velha, minha avó, minha tia, pra me segurar e passar aquilo.
Banho tomado, noite caída, a resenha.
- Rapá, cê apanhou de Bau.
- Porra nenhuma.
- Nada a ver. O cara bateu, eu vi tudo, Bau só deu um murro na cara e ele deu dois.
-Mas o de Bau machucou mais.
-Mais ele deu dois e Bau só deu um
- Vocês são uns viados da porra, na hora que o cara chamou todo mundo pra mão ninguém falou nada.





Agente sentado no muro de seu Marinho. Tinha um monte de muro pra sentar mas seu Marinho ficava injuriado quando agente sentava lá, então todo dia agente colava lá até ele xingar todo mundo e agente saía e ia sentar no poste da Coelba que tinha caído do lado da igreja. Dava o quê, 15 meninos sentados no poste trocando idéia. Colava os meninos de 13, 14 anos, agente tinha de saber se comportar, mas de todo jeito sempre tomava um cascudo, uma broca, na verdade os meninos treinavam na gente a arte de dar brocas, com a curva da mão encaixando perfeitamente na nuca do outro. E tinha de estalar alto, pra todo mundo rir.
- Isso aí é fixe, Papelzinho foi o único que saiu na mão, vocês ficaram igual uns gadinhos de cabeça baixa.
Silêncio
- Mas vocês também se aputam quando os caras do Estica, do mesmo tope de vocês passam aqui na rua.
Barulho de uma broca. Alto. Estalo perfeito e um pirralho conversador calado esfregando a mão na nuca dolorida.
- Aí ó, um menino do Estica passando aí, quero ver um de vocês aprontar ele.
- Vai lá Papelzinho e Jean, vai, vai
Já sabia o roteiro.
- Ô viado você ta tirando onda na rua dos outros porquê?
Ele continuou andando.
- Ô viado não ande gingando na minha rua não que eu vou quebrar seu braço.
Eu e Jean éramos os menores da rua, então o cara do Estica vinha pra cima da gente, na inocência. Quando chegava perto, vinha Valnei, Messinho, Loguita, Coro Seco, os meninos maiores.
- Você vai bater do menino daqui da rua é?
- Ele me chamou de viado.
-Mas você passou aqui na rua tirando onda mermo, todo mundo viu. Agora você quer bater no menino daqui, só porque ele é pequeno.
- Rapaz, eu num tava tirando onda não!!
Andar gingando era só pra valente. Agente chamava de “andar tirando onda”. Você passar na rua de alguém “tirando onda”, quer dizer, gingando os braços e o corpo junto, era como se tivesse desafiando todo mundo. Agente cansava de se testar desse jeito: Duvido que você atravesse o São Lourenço “tirando onda”. Ou se orgulhava de dizer: Eu desci o Gengibirra “tirando onda”.
Eu só podia dar o primeiro murro, que depois os mais velhos tomavam a frente. Gostava de bater. Dei um chute na barriga, ele retrocedeu. Valnei era nosso herói, saiu rebocando o cara todo, até a Rua A e aí ele desceu correndo pela Rua D.
- Você nem bateu!
-Bati sim, dei um chute na costela!
-Deu porra nenhuma.
-Bati sim, porra
Aí agente ia fazer a ronda, pra ver como estava nosso bairro, pra ver se via alguma menina, e pra ver se os meninos do Estica iam subir pra cobrar o cara que agente tinha comediado.
Saía filinha de bandidinho cantando: “ Ô Muzenza me diz o que é que eu sou: mensageiro do amor..., Ô Muzenza me diz o que é que eu sou...” e os outros nas palmas,clap, clap, clap – clapclap!! E no ritmo das palmas fazíamos a volta pelo Gengibirra até o São Lourenço pra cercar o Estica. Do São Lourenço dava pra ver a Cidade Baixa cravejada de luzes brilhantes. O Trem passando com seu barulho de lata-velha. Agente ficava calado olhando as luzes, com cabos de vassouras nas mãos, hipnotizados pela beleza de nossa cidade.



Quando eu vejo Marina no São Miguel, oferecendo o corpo em troca de crack, magrela, cara manchada, eu passo e digo: quando é que vai engrossar essas pernas de novo senhora? Ela sorri: não demora eu saio disso aqui, fique tranqüilo.
Marina de vestidinho, oito aninhos de idade e eu apaixonadinho. Olhos pretos redondos, cabelos pretos com os cachos cobrindo a orelha. Mas eu to namorando com Luciano.
O Pai de Luciano tinha uma caçamba que levava os meninos pra a praia, pra jogar bola no Largo do Papagaio, vixe, era o sucesso do Bairro Guarani. Também era mais bonito que eu, ela dizia, e toda as vezes que agente saiu na mão ele me bateu.
Mas ela me beijou e virou minha nega. Lógico que a caguetagem levou pra Luciano, que subiu lá na rua e me bateu de novo. Mas depois ele disse – Eu que não quero mais ela!
- Agente vai jogar na Ladeira do Abacate, no sábado.
- Já sabe que os caras vão querer aprontar agente né?
- Agente apronta eles também quando eles vierem pra cá.
Deu primeiro tempo e agente ganhando de um a zero. Jogando na parte de baixo da ladeira. Agente jogava contra o Fluminense e jogava contra a gravidade.
- Pára a bola.
- A Mãe de Cacau vai passar.
-Essa fudiona não pode passar logo não?
- Respeite a mãe dos outros.
- Não meta minha mãe no meio, que eu meto no meio da sua!!!
Cada chute dado lá de cima era um foguete pra as mãos do Goleiro Papel. Agente chegava lá em cima já sem força nas pernas e o chute saía miado. Os caras batiam muito, me deram uma pegada na canela que até hoje eu tenho ela marcada. Um cotovelada em Jean. Os ônibus passavam lá em cima, os coroas no buteco paravam pra prestar atenção no jogo e algumas vezes gritavam: Sai daí seu grosso!!
Mas terminou o primeiro tempo e agente tava ganhando.
- Rapaz, tem uma má notícia...
- Fala logo.
- Os caras disseram que não vão trocar de lado não.
- Porra e agente vai ter que jogar os dois tempos embaixo da ladeira?
-É, vc vai lá dizer que não?
Era uma coisa a se pensar. Dessa vez o jogo era só dos menores, os grandes não tinham jogo, então agente tava sozinho.
- Bota as sandálias nossas todas do lado do gol aqui embaixo, quando o jogo acabar agente quebra todo mundo e sai correndo.
- Tem que se ligar se não vai ficar nenhum menino maior lá embaixo na crocodilagem.
- Quero saber não, terminar essa porra eu jogo no primeiro que tiver na minha frente.
-Corre pelo Estica, se os meninos do Estica juntar com os da Ladeira do Abacate pra aprontar agente, agente tá fudido!
- Porra nenhuma, bate , sai correndo, importante é ganhar a porra do jogo.

Acho que foi a raiva mesmo, agente segurou o um a zero até acabar o jogo, mesmo os caras vindo de cima e agente sem guentar subir. Os caras eram do nosso tamanho, só tinha um maiorzinho no time, mas esse era mais seco do que eu. Lógico que os caras iam tentar bater na gente se agente ganhasse o jogo. Então, como porrada dada não se tira, a estratégia era bater primeiro.
Assim que o cara marcou o uma zero na tabela eu dei um murro na cara do pirralho na minha frente, só deu pra ver Jean chutando as costas do grande e seco. Zum, calcei a sandália e disparei ladeira abaixo, só ouvia a gritaria atrás de mim: pega, pega! Alguns dos meninos que vinham subindo a ladeira ainda tentavam nos agarrar. Tomei um tapão que minha orelha ficou zumbindo. Desci o Estica, na curva a sandália partiu e eu continuei correndo e tentando enfiar a tira da sandália de volta na sola. Corre, corre, subi o beco de terra da casa de Tonho, subiu todo mundo, só Loguita tinha a camisa rasgada.
- Vai tomar no cú, não apanhei dos meninos pra apanhar de minha mãe em casa.
-Aquela cachaceira já ta é dormindo essa hora!
- A camisa de sair.
- Se fudeu seu lerdo!
- Pega pedra aí, vamo ficar na crocó, pra ver se os caras vem atrás.
Acabou de falar e os meninos apareceram na subida do beco. Chuva de pedras. Eles voltaram:
- Você vai ver!!!! Vocês não passam mais aqui na rua!!!
- Vai viado, bote a cara aí!!!!





Ficamos em terceiro, e quatro times ficaram pra disputar a semifinal. Rapaz, no sufoco agente ficou pra jogar contra o São Lourenço. O Estica pra jogar contra o Gengibirra. Eu estava empolgado, de todo jeito, agente tinha ganhado várias partidas, apanhamos menos que os outros, ninguém se machucou seriamente, só Loguita, quando a mãe dele descobriu que ele tinha rasgado a camisa de sair.
Fomos em embaixada no Estica. Eu, Jean, Loguita. Os meninos tavam sentados na escadaria que sobre pra o Pero Vaz. Papa Capim tava segurando um irmão menor descalço e de fralda:
- Agente quer poder passar aqui pra poder jogar no São Lourenço...
- Passar? Agente devia aprontar vocês era agora, disse Bau, tomando a frente da galera dele.
- Se vocês aprontarem agente aqui, agente apronta vocês quando vocês forem jogar no Gengibirra
Bau olhou pros outros. Fizeram sinal de positivo, Bau disse:
- Só até a final, viu?
Saímos andando sem tirar a atenção deles e nem dos meninos maiores que estavam perto. Quando agente já tava saindo do Estica, pegamos os sacos de lixo que estavam na frente de uma casa e jogamos pela janela que tava aberta. E saímos correndo e gritando.



Brasil ganhou um jogo e um vagabundo de um candidato mandou botar trio no Curuzu, pra tocar Muzenza. Tem que ir né. Mamamama África, Mamamama África ié ié. Agente era a galera do mal. Tomei banho, passei meio pote de neutrox no cabelo. Botei um jeans velho e escondi um faquinha no bolso. A senhora minha mãe devia estar no Pelourinho enchendo o rabo de cachaça. Foi eu, Messinho, Neguinho e mais quatro. Sete meninos.
Muzenza ô, ô,ô, guerrilheiros, ô,ô,ô,ô,ô Agente adorava, tinha um bloco no São Lourenço chamado Forroxé que era o preferido, mas o Muzenza tocava no rádio, todo mundo sabia as músicas, todo mundo sabia a dancinha, todo mundo sabia a versão: “ Ô Muzenza me diz o que é que eu sou?” E o coro: “ Ladrão Maconheiro, estuprador!!!”
Nem deu nada, colei na parede, a mão no bolso segurando a faquinha. Os meninos dançando atrás do trio. Vi os meninos do Estica, os meninos do Gengibirra.Os da Ladeira do Abacate não podiam entrar ali. Em um momento senti uma mão forte prendendo e torcendo meu braço.
- Tem o quê aí no bolso?
Era um homem branco e barbudo, com hálito de cigarro. Puxou minha mão. Tomou a faca, me empurrou até o outro lado da rua por dentro da multidão.
- Fique aí encostado que você vai pro juizado.
Noites e mais noites que nossa resenha era só contando as histórias que agente ouvia do juizado de menores. Meu Deus, isso era ditadura militar ainda. Unhas arrancadas, meninos com os olhos queimados de cigarro, estupros coletivos, cicatrizes permanentes, semanas sozinho em quartos escuros. Só de pensar nisso senti asma. Vixe, o filho da puta conversando, sorrindo com um amigo e eu ali capturado. Na veia tilintando na têmpora, desci uma escadaria como uma bala, como um trem-bala!! Passei por trás do Abrigo do Povo, subi a Ladeira de São Cristóvão, desci outra escadaria que ia até o Largo do Tanque, subi o São Lourenço, atravessei correndo a casa de Dona Pepê que era uma passagem secreta do Gengibirra atá a Rua C, perto de onde Missinho e o Chiclete com Banana faziam os primeiros ensaios. Tava livre. Nem sei se o cara era mesmo do juizado ou se tava somente me botando medo. Mas nunca tinha me sentido tão bem voltando pra casa.



Eu sei que passamos pra a final. Na véspera do jogo, Bau foi lá na rua:
- Quero jogar no time de vocês!
- Porquê? Você é do Estica!
- Eu briguei com Papa-Capim...
Pode vir amanhã, disse o Goleiro Papel, atuando de cartola.
Galícia e Flamengo. Ninguém sabe o duro que eu dei. Na verdade ninguém sabe mesmo. Agente era uns mosquitinhos invisíveis e as senhoras passavam pela rua com sacos de compras e o pai de Beto consertava a moto no pátio, enquanto nossa grande final se desenrolava. Sem bandeirolas, sem torcida, sem câmeras, mas era a grande final do campeonato dos meninos menores de dez anos.
O Goleiro Papel tirou Jean do time e colocou Bau no lugar. Nosso time estava invencível. Os meninos do gengibirra também eram bons. Acho que foi por isso que Bau saiu do Estica, deve ter culpado os colegas pela derrota.
Nosso time acostumou a sair perdendo e virar o placar no segundo tempo. O Jogo era na Rua C, que era também um pouco enladeirada. Não foi diferente, começamos tomando um gol, bola rasteira, no cantinho. Mas antes de terminar o tempo, eu fiz um gol. Bonitinho, no cantinho. Na verdade, como as traves eram pedras e sandálias, a única forma de fazer o outro time aceitar a validade do gol, era que o chute fosse rasteiro. Senão já sabe: Foi por cima!!!, ou Foi por fora!!!! E aí a pancadaria começava.
Viramos o primeiro tempo empatados, o Goleiro Papel tinha trazido até água gelada pra agente tomar. Segundo tempo.
Jogo truncado, Bau chutou duas bolas assassinas, mas o goleiro foi buscar. Ele estava impossível, onde agente chutava ele ia buscar. Agente segurava na defesa e os caras não conseguiam chegar.
Mas...
Junto pra terminar o jogo, falta pra eles, o Goleiro Papel arrumou a barreira, eu fiquei do lado olhando.
Vou dizer, não tenho problema em perder, mas perder sendo melhor... não tem coisa que me doa mais.
Minha mãe uma vez fez doze pontos na Loteria Esportiva. O único jogo que impediu ela de ficar milionária foi Vitória e Leônico. O Vitória perdeu da miséria do Leônico em plena Fonte Nova.
E,
Minha mãe também me falou uma vez: quem torce pro Vitória, meu filho, é porquê gosta de sofrer!
A bola veio rasteira, fraca, passou pela barreira. O Goleiro Papel foi fazer pose de Leão do Palmeiras, a bola passou no meio das pernas dele. O jogo acabou, 2X1 pro Gengibirra.
Chorei. Senti o pé ferido, o cotovelo rasgado, mertiolate, asma.
- Seu Waldir Peres filho da puta, não fale comigo nunca mais!!!
E saí sem olhar pra trás, enxugando as lágrimas com a mão suja.

Mandingo 26/01/12